terça-feira, 1 de abril de 2014

Travesti é preso por morte de policial durante programa em Vitória



"É preconceito por eu ser travesti", diz acusado de matar policial rodoviário federal na Mata da Praia 

Jhon afirma que ele não é a pessoa que aparece nas filmagens das câmeras de videomonitoramento e diz que não estava tentando se disfarçar 

“Eu simplesmente não fiz nada”, disse Jhon Wener Reco Alves de Araújo, 22 anos, travesti apontado pela polícia como o assassino do policial rodoviário federal João Miguel do Sacramento, 45. Detido na DHPP, ele negou o crime e disse que foi vítima de preconceito. 

A arma do crime não foi encontrada. Segundo a polícia, investigadores foram a nove pontos de tráfico para localizar o revólver, inclusive interrogando um homem que seria gerente de uma boca de fumo em Jabour, onde mora o travesti, mas não tiveram sucesso. A suspeita da polícia é que Jhon tenha vendido a arma do policial ou a trocado por drogas. 

Segundo o acusado, não é ele que aparece nas imagens de videomonitoramento. “Olha a bunda do viado, eu não tenho esse quadril!”, afirmou. Mais do que erro no reconhecimento, ele afirma que a prisão é fruto de preconceito por ele ser travesti. 

 Jhon, que usa o codinome John Lennon para fazer programas, trabalha em um ponto da Avenida Adalberto Simão Nader, em Vitória, há onze anos. Desde que se descobriu travesti, ainda criança, ele passou a andar com um grupo de prostitutas, além de usar drogas. Depois de ter experimentado vários tipos, ele se fixou no crack. 

No momento de sua prisão, a polícia disse que Jhon estava pintando o cabelo de ruivo. O ato seria uma estratégia para se disfarçar, uma vez que, de acordo com o delegado Marcelo Cavalcante, o cabelo do travesti era louro. Na ocasião, ele tentou resistir, atacando um dos policiais, mas foi dominado e levado para a DHPP. Lá, diante das suspeitas da polícia, negou o crime. Ele não tem passagem pela polícia. 

“Nem tudo que parece é”, diz travesti 

Você faz programa há quanto tempo? 

Eu tinha 11 anos na primeira vez. Me descobri travesti aos 10. Fui a primeira travesti a ser aceita no grupo das meninas. Desde quando você usa crack? 

Desde pequena. O crack foi a droga que mais me pegou. Nunca quis outra. 

O cachimbo encontrado no carro era seu? 

Não. Não fumo em cachimbo, fumo em lata. 

A polícia disse que você está nas imagens. 

Ah, mas nem tudo que parece, é! Eu não tenho esse quadril, sou do tipo magra. Estou tranquilésima. 

 Por que você acha que foi preso? 

Preconceito! Acharam um travesti e prenderam. 

Você estava pintando o cabelo... 

Mas eu sempre pinto! Eu estava retocando a raiz, pinto de ruivo para trabalhar. 

Quando soube que o policial morreu? 

Aqui (DHPP), quando me falaram. Espero que esteja em um bom lugar. As pessoas me conhecem, eu nunca faria isso. A justiça de Deus será feita! 

 "Olha a bunda do viado, eu não tenho esse quadril! Jhon Wener, acusado de matar policial" 

 Colegas acompanham a investigação 

 Colegas de trabalho do policial rodoviário federal João Miguel do Sacramento estiveram no local do crime e também acompanharam o trabalho da polícia, na delegacia. O inspetor Edmar, que como a vítima é lotado no posto da PRF da Serra, contou que a notícia deixou a equipe abalada. 
Policiais da PRF acompanham investigação do assassinato de Miguel Sacramento
“Nós estávamos trabalhando normalmente, no plantão, quando recebemos a informação de que teria ocorrido um problema com o Miguel Sacramento. Então, viemos verificar. Chegamos aqui e, infelizmente, nos deparamos com essa triste situação”, disse. 

Ele frisou que Miguel Sacramento estava na PRF havia muitos anos e já participara de diversos trabalhos pelo Brasil. 

Comovidos com a morte do colega de trabalho, os policiais acompanharam o trabalho de investigação da Polícia Civil. 

Ruas são usadas para os programas 

Moradores do bairro Mata da Praia, em Vitória, ficaram assustados com o assassinato do policial na Rua José Pinto da Silva. Eles ressaltaram que o local é frequentado por prostitutas e travestis, que fazem programas por ali. 

“Na esquina ficam muitas prostitutas e travestis. É o ponto deles à noite. E eles usam as ruas próximas para fazer programas. A gente vê muitos homens parando os carros ali”, disse uma dona de casa de 53 anos. 

 Outro morador foi ainda mais incisivo sobre a situação: “Essa rua é um verdadeiro motel. Constantemente encontramos preservativos quando stor que mora no prédio em frente ao local do crime diz que as brigas entre travestis e seus clientes são comuns. “O que a gente mais vê é isso. Eles usam a rua para fazer programas”.

É comum, também, encontrar preservativos usados jogados na rua, como conta um aposentado de 55 anos. “Vemos constantemente encontros de casais por aqui. Às vezes, os casais até brigam. Mas jamais pensei em presenciar uma cena como essa por aqui”. 

O crime

O policial rodoviário federal João Miguel do Sacramento, 45 anos, foi morto a tiros dentro do carro dele, estacionado na Rua José Pinto da Silva, na Mata da Praia, em Vitória, na madrugada deste domingo (30). O corpo do policial foi encontrado por moradores, por volta das 8 horas. O crime chocou a comunidade. 

Miguel estava nu, usando um preservativo e sentado no banco do motorista. Peritos criminais encontraram quatro perfurações no corpo dele: duas no lado esquerdo, próximas ao pescoço, uma no lado esquerdo do rosto, perto do nariz e outra na testa. Segundo o delegado Marcelo Cavalcante, ainda não é possível concluir quantos foram os disparos, visto que as perfurações podem ser de entrada e saída – isto é, duas balas teriam deixado quatro ferimentos. 

Na tarde deste domingo, a polícia prendeu o travesti Jhon Wener Reco Alves de Araújo, 22, que usa o apelido John Lennon durante os programas. Segundo a polícia, não há dúvidas de que ele seja o homem que aparece nas imagens registradas pelas câmeras de videomonitoramento (veja vídeo abaixo) de prédios vizinhos ao local do crime. Uma testemunha reconheceu o travesti. 

Sem roubo 

No veículo da vítima, o Renault Fluence prata MTN 2491, peritos criminais encontraram todos os pertences de Miguel, à exceção de sua arma: a carteira com cerca de R$ 500, documentos, celular, óculos, tênis, calça, e o coldre da arma. Na rua, do lado do carona do veículo, os policiais recolheram um cachimbo para consumo de crack e um batom. No lado do motorista, perto do carro, foi achada uma embalagem de lubrificante. 

A suspeita da polícia é de que o travesti tenha pegado a arma da vítima, atirado e levado a pistola. O delegado acredita que seja um révólver calibre 38. Não foram encontradas cápsulas ou projéteis dentro do carro. Havia somente um copo, com a marca de uma festa ocorrida na noite de sábado, no Pavilhão de Carapina, na Serra. Miguel usava uma pulseirinha do evento no braço direito e um relógio no braço esquerdo. 

Travesti nega 

 Na DHPP, Jhon negou o crime. Segundo ele, João Miguel o abordou na Avenida Adalberto Simão Nader e pediu por um programa, mas disse que só tinha R$ 20. Depois de dar uma volta pelos arredores, ele voltou a abordar o travesti e teria dito que pagaria aquele preço por sexo oral. 

 Jhon alega que estava dentro do carro com a vítima quando uma dupla de bandidos teria chegado e mandado que saísse do carro e corresse. O travesti afirma que enquanto corria ouviu um disparo, mas ficou assustado e não chamou a polícia. 

O suspeito foi encaminhado para o Centro de Triagem de Viana e será indiciado por homicídio duplamente qualificado. O crime será investigado Delegacia de Crimes Contra a Vida, de Vitória. 

“Senti que meu filho não estava bem”, diz pai 

 "Eu acho que mataram o menino", falou o pai de João à esposa O pai e a mãe de João Miguel do Sacramento estiveram no local do crime, na manhã deste domingo, e reconheceram o carro do policial, o Renault Fluence prata, que está em nome da mãe. O corpo já havia sido recolhido. 

 Muito abalada, a mãe reconheceu o carro imediatamente. Mas não quis falar sobre o assunto. O pai, de 77 anos, também estava chocado. 

Ele contou que assiste à missa todos os domingos na Igreja São Camilo, que fica no bairro. Domingo, ao passar pela rua, retornando da igreja, ele viu o movimento de pessoas e da polícia. Porém, não chegou a reconhecer o veículo. 

“Desde as 4 horas eu estava sentindo que alguma coisa não estava bem com o meu filho. Era um aperto no peito. Ao chegar em casa, depois da missa, falei com a minha mulher: ‘Eu acho que mataram o menino’. Voltamos aqui e reconhecemos o carro”, contou o pai do policial. 

Desde pequeno Miguel do Sacramento sonhava ser policial rodoviário federal. Passou no concurso da PRF em 2º lugar entre 55 mil candidatos. Ele trabalhava na Serra, no Núcleo de Operações. 

 Miguel era separado e deixa um casal de filhos, de 20 e de 22 anos. Ele morava sozinho, em Jardim Camburi. Segundo colegas de trabalho, ele tinha uma namorada. 


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