segunda-feira, 11 de julho de 2011

Gente que faz

Daniel das Neves

Fazer as próprias roupas, bicicletas, cerveja e até games vem se tornando mais comum na vida de muita gente. A nova era do faça você mesmo se tornou possível graças à colaboração pela internet

Comprar um papel de parede, uma bicicleta ou uma estante demanda um esforço mínimo: ir até a loja, escolher e pagar. Ainda assim, muita gente vem preferindo um caminho mais longo. É o caso da artista plástica Juliana Russo, que faz seus próprios objetos de decoração, do empresário Mário Canna, que cria bicicletas, da publicitária Desirée Marantes, que produz seus instrumentos musicais, e do engenheiro Luiz Rocha, que fabrica de móveis a eletrônicos. Em vez de apenas sacar o cartão de crédito, eles preferem passar horas estudando o design ou procurando matérias-primas para seus inventos. Ironicamente, um dos motivos que levam a essa trabalheira toda é que no mundo das coisas prontas tudo é fácil — e igual — demais.

“Numa era em que quase tudo é produzido por máquinas, fazer algo com as próprias mãos é um tipo de rebeldia”, diz a socióloga americana Betsy Greer, que pesquisou a cultura DIY (sigla para Do It Yourself, ou Faça Você Mesmo, em português), em seu mestrado na Universidade de Londres, na Inglaterra. Betsy faz parte de um movimento que ganha adeptos em diversas partes do mundo. A ideia de fabricar produtos, de objetos de decoração a gadgets, com as próprias mãos, ganhou uma justificativa extra com a crise financeira de 2008. Nos Estados Unidos e em diversos países da Europa, as pessoas passaram a abrir mão de objetos industrializados e a preferir os feitos em casa.

RICARDO CORRÊA
A artista plástica Juliana Russo, 34 anos, e seu papel de parede feito com fotocópias de um desenho de autoria dela. O móvel antiguinho ao lado foi restaurado à mão
Crédito: Ricardo Corrêa
Daniel das Neves
Crédito: Daniel das Neves
PAPEL DE PAREDE COM XEROX:
Como fazer
1 – Em uma folha de papel sulfite tamanho A3 ou A4 branca faça um desenho preto, de preferência com linhas retas. Use a folha por completo, sem deixar margens brancas
2 – Tire xerox do desenho. Cada 8 folhas A3 valem um metro quadrado. Calcule a quantidade de cópias de acordo com seu espaço
3 – Dilua cola escolar em água filtrada. Para cada copo de cola, 2 de água. Com um rolo de tinta, passe uma demão de cola na parede, coloque o papel e passe cola por cima, para protegê-lo. Retire o papel e afixe-o novamente na parede, passando a mão por cima para evitar bolhas e ondulações. Cuidado para não deixar buracos entre as folhas

Ok, mas fazer as coisas com as próprias mãos nem sempre sai mais barato do que comprá-las. Às vezes, fica até mais caro. Fabricar cerveja artesanal, por exemplo, custa bem mais caro do que comprá-la na esquina, por conta dos equipamentos. Mas isso não impediu que a publicitária Desirée Marantes, 32 anos, de Porto Alegre (RS), começasse a produzir cerveja em casa. Os encontros com os amigos para degustar a bebida são pequenos rituais, em que também se discutem receitas. “Dá trabalho, mas vale a pena ter mais um motivo para reunir as pessoas e conversar”, diz Desirée. Ex-violinista, e agora guitarrista nas horas vagas, ela aderiu à cultura do Faça Você Mesmo porque queria deixar seus instrumentos e acessórios musicais a seu gosto. No início, Desirée mandava os equipamentos a lojas especializadas com pedidos de customização. E era quase sempre ignorada pelos técnicos. Resolveu, então, fazer as adaptações por si mesma. A primeira foi um pop filter (aquele aro na frente dos microfones em estúdios de gravação), montado com um aro de bordar e um pedaço de meia calça. “A partir daí fui totalmente contaminada pela ideia de que basta dedicação para fazer qualquer coisa.”

Mais do que salvar alguns trocos, é essa descoberta da autossuficiência que impulsiona o movimento. Para muitos adeptos da cultura do faça-você-mesmo existe o orgulho em sair por aí usando um vestido criado em casa ou em pedalar a bicicleta customizada na própria garagem. Do mesmo jeito que os early adopters, aquele grupo de pessoas que compra eletrônicos em primeira mão para se diferenciar da multidão, nem que isso só dure alguns dias, quem fabrica produtos em casa quer ter algo diferente do que todo mundo tem. E sentir que participam do processo de fabricação. “São pessoas que querem ter produtos cada vez mais específicos, com os quais possam se identificar”, diz Lucas Liedke, diretor do núcleo de tendências da agência de pesquisa de comportamento jovem Box1824, em São Paulo. “Quando você compra uma coisa pronta, é como se ela não te pertencesse. E, se você quiser adaptá-la, normalmente não tem jeito”, diz Dale Dougherty, editor-chefe da revista americana Make, especializada em DIY, com tutoriais de projetos ligados principalmente à ciência e tecnologia.

RICARDO CORRÊA
O empresário Mário Canna, 32 anos, ajusta sua bicicleta roda-fixa: o lance está no visual minimalista e no jeito de pedalar, que permite até andar de ré
Crédito: Ricardo Corrêa
Daniel das Neves
BIKE RODA-FIXA:
Como fazer
1 – Pegue uma bicicleta usada. Pode ser aquela que está encostada na garagem. Retire o freio traseiro e o câmbio, se houver
2 – Certifique-se de que a gancheira (gancho no final do quadro, onde se encaixa o eixo da roda traseira) é como no desenho. Este formato permite o ajuste fino da corrente, de maneira que ela fique sempre tensionada. Se necessário, peça a um serralheiro para fazer a alteração
3 – Substitua a catraca de roda livre (peça por onde passa a corrente, presa na roda traseira) por outro tipo de engrenagem, o pinhão. Esse é o segredo da roda-fixa. A catraca possui um rolamento que permite que a roda continue girando mesmo quando você não pedala. Por isso é possível “andar na banguela”. Já o pinhão não possui esse rolamento. A roda só se move enquanto você pedala. Dá para andar de ré e frear apenas girando a roda com os pés para trás, num solavanco. Para saber mais sobre a montagem de uma bike roda-fixa acesse o blog do Mário: mariocanna.multiply.com/journal/item/1

Paradoxalmente, essa tendência de fazer coisas em casa acabou movimentando novos negócios nos países em que ganhou mais força. Na Europa e Estados Unidos surgiram empresas que não fabricam nada, mas fornecem infraestrutura para que outros fabriquem. São espaços que alugam equipamentos, como impressoras a laser, máquinas de corte ou softwares. O FabLab (de Fabrication Laboratory, ou laboratório de fabricação), em Amsterdã, é uma delas. Cobra 200 euros por uma hora e meia de uso e abriga, em suas estações de trabalho, até 15 pessoas. É como alugar uma quadra de futebol com os amigos. No entanto, em vez de jogar bola, pode-se criar de aparelhos eletrônicos a prateleiras. O modelo é similar ao da americana TechShop. Em um galpão de 15 mil m2 na região de São Francisco, Califórnia, tem U$ 750 mil disponíveis em ferramentas. Para usá-las, basta se associar, pagando U$ 120 ao mês. “Não é apenas um espaço, mas uma comunidade que se une para construir, criar e inovar em seu tempo livre”, diz o fundador, Jim Newton.

Esse tipo de lugar é uma boa para gente como o empresário paulistano Mário Canna, 32 anos, que fabrica bicicletas em uma oficina improvisada nos fundos da casa de sua família. “Montar uma delas significa conhecer cada peça, cada detalhe, saber de cara onde está o problema quando algo dá errado”, diz. A ideia de fazer as bikes começou quando Canna morava no Canadá e recebeu uma encomenda embrulhada em um jornal. Nele, havia uma pequena matéria sobre bicicletas de roda-fixa, exatamente as que ele passou a montar. É um modelo sem marchas, em que a roda só gira enquanto a pessoa pedala. E como esse tipo de bike praticamente não se encontra pronta — só pode ser adaptada a partir de uma bicicleta usada —, está muito ligada a conceitos de DIY como reciclagem, economia e exclusividade. “Cada bicicleta é única”, diz Canna, um adepto da cultura DIY que defende que “fazer você mesmo” não é só começar um produto do zero, mas também modificar algo pronto.

Lucas Cavalheiro
Desirée Marantes, 32 anos, usa seu miniamplificador feito com uma latinha de balas. A publicitária também reúne os amigos em casa para fabricar cerveja
Crédito: Lucas Cavalheiro
Daniel das Neves
Crédito: Daniel das Neves
MINIAMPLIFICADOR DE GUITARRA:
Como fazer
1 – Escolha uma latinha. Pode ser de bala, sardinha, café, biscoito... Só precisa ter tamanho suficiente para caber um circuito elétrico de 4 cm x 6 cm de medida
2 – Acesse www.handmades.com.br (clique em projetos, amplificadores, Mini Amp — 0,5 W /9 V). Siga as instruções para montar o circuito elétrico para o amplificador de baixa potência. Desirée levou uma tarde na tarefa. O nível de dificuldade é moderado para quem não entende de eletrônica. Coloque o circuito elétrico dentro da latinha
3 – Com uma chave de fenda e martelo faça 3 furos na lateral da lata para encaixar os botões de volume e ganho (para distorção de som) e a entrada para o cabo que fará a conexão do amplificador com a guitarra, o Jack

HACKERS DO MUNDO REAL
Todo mundo tem o direito de fuçar e hackear qualquer produto que exista no mercado. É no que acredita Dale Dougherty, da revista Make. Para ele, da mesma forma que os hackers do mundo digital modificam sistemas de computadores, os do mundo real alterariam coisas. A megarrede de lojas de artigos para casa Ikea, uma espécie de Tok & Stok de origem sueca, foi alvo de designers e artistas holandeses independentes que criaram o concurso não-autorizado Hack Your Ikea. A competição convidava as pessoas a não jogar fora seus produtos da loja já sem uso, mas a transformá-los. Foi uma forma divertida de criticar os princípios da Ikea, que vende peças com design bacana a preços módicos, mas que, segundo os organizadores do concurso, não duram muito. A designer Lisette Haasnoot correu até a Ikea mais próxima e comprou uma luminária, a Astrid. Devolveu o produto sem a caixa no balcão de atendimento ao cliente e pegou seu dinheiro de volta. Levou para casa a embalagem. Fez um furinho na caixa para passar um fio, instalou uma lâmpada dentro e passou o estilete para criar fendas no papelão que permitissem a passagem da luz. Pronto. Criou uma luminária — e conquistou o prêmio. “Foi um hack brilhante de todo o sistema de empacotamento e devolução da Ikea”, disse uma das juradas. Essa é a crença que move Dougherty, da revista Make. “Os próprios fabricantes deveriam estimular as pessoas a transformar seus produtos, pois, muitas vezes, o usuário tem uma ideia que o fabricante não teria.”

Ser mais independente em relação à produção em massa e conseguir imprimir uma marca pessoal nas coisas é uma ideia que se estende até na prestação de serviços. Criado em uma família em que todo mundo tinha síndrome de professor Pardal (o personagem inventor da Disney), o diretor de arte Cássio Moron, 43 anos, de São Paulo, tomou de vez gosto pela coisa quando morou nos Estados Unidos e Europa. Percebeu que estávamos mal acostumados com a mão de obra barata no Brasil. De volta à terra natal, Cássio fez toda a parte de marcenaria, além dos sistemas elétrico e hidráulico de sua casa. Foi ele quem criou o sistema doméstico de tratamento de esgoto. “É difícil eu ficar satisfeito com um trabalho contratado, sem contar meu prazer em colocar a mão na massa”, diz. Por isso, na casa dele praticamente não entra encanador ou eletricista. Profissionais também raramente requisitados pela artista plástica paulistana Juliana Russo, 34 anos. Além de fazer consertos domésticos por conta própria, Juliana garimpa peças que as pessoas jogam fora e as transforma. Já reformou um armário com gavetas, uma luminária e uma cadeira, entre as peças que lhe deram maior orgulho. “Quero ir na contramão do consumo. Uso as coisas até o último momento. Pego as roupas velhas, costuro, ajeito, prolongo a vida delas mais um pouquinho”, afirma. Cássio e Juliana têm essas habilidades manuais, digamos, de nascença. Mas mesmo quem não é bom com ferramentas pode aprender a fazer as coisas por si mesmo. E na hora de colocar a mão na massa, o maior aliado — quem diria — é o mundo virtual.
Guilherme Puppo
O engenheiro de computação Luiz Rocha, 25 anos, e sua estante feita com livros. Esse é um dos projetos ensinados em seu site colaborativo, o inventeaqui.
Crédito: Guilherme Puppo
Daniel das Neves
Crédito: Daniel das Neves
ESTANTE INVISÍVEL:
Como fazer
1 – Escolha um livro que você não vai usar mais, de preferência de capa dura. Meça-o com uma régua para encontrar o meio. Posicione ali um suporte de prateleira, como indicado no desenho. Faça uma marca ao redor dele. Use um estilete para cortar as páginas na marcação, fazendo um buraco profundo o bastante para encaixar o suporte. Parafuse-o
2 – Junte as páginas com parafusos. Passe cola em toda a capa, feche e deixe secar por uma noite. Use um peso para pressionar
3 – Fixe a estante na parede com um parafuso grande e uma broca. Preencha com livros a parte do L que ainda está visível

EM REDES
A internet é uma das melhores justificativas para o ressurgimento da cultura do Faça Você Mesmo. Primeiro, por quebrar barreiras geográficas. O jornalista americano Daniel Sinker, que acompanha os movimentos urbanos nos Estados Unidos e é um dos criadores da revista Punk Planet (1994-2007), exemplifica com um caso igual a diversos outros que se poderia encontrar por aí. Ele diz que em Chicago, onde vive, sempre houve garotos que gostavam de fazer pôsteres de bandas, por pura diversão. Daí veio a internet e um pessoal no Canadá, por exemplo, resolveu lançar um site para vender esse tipo de produto, o gigposters.com. “Além de descobrir que não estavam sozinhos, do dia para a noite aqueles garotos começaram a ganhar uma graninha com o que antes era apenas lazer. Alguns até passaram a viver disso”, diz. A rede virtual conectou pessoas que fazem coisas e pessoas que querem comprar essas coisas. Criou, assim, um canal para o escoamento de produtos feitos em qualquer lugar do mundo.

O site Etsy.com é emblemático dessa corrente. Criado em 2005 por um pintor, carpinteiro e fotógrafo americano que queria vender suas invenções, hoje tem cerca de 6 milhões de itens em sua vitrine digital. E reúne gente que se inspira para fazer sites semelhantes, que criam comunidades de pessoas interessadas em vender seus produtos feitos à mão, como o brasileiro ciadasmaes.com.br. O site reúne peças feitas apenas por mães, como roupas, quadros e brinquedos. Mais do que gerar vendas, porém, a grande contribuição da rede virtual está na formação de comunidades. “É um paradoxo: faça você mesmo não quer dizer faça sozinho. Normalmente, significa fazer com outras pessoas”, diz Dougherty. Por isso, um fenômeno que surge com a atual cultura DIY são os sites colaborativos com tutoriais para se fazer de tudo. No Brasil, somente no ano passado, foram lançadas ao menos duas páginas nessa linha. Uma delas é o inventeaqui.com.br, criado pelo engenheiro da computação Luiz Rocha, 25 anos, de Curitiba (PR). De tanto ver projetos bacanas serem desenvolvidos em sua faculdade e não compartilhados por falta de espaço, Luiz se juntou a um programador de internet e em três meses colocou o site no ar. Por lá, pode-se aprender (ou ao menos tentar) a fazer desde estantes invisíveis a um mini-gerador eólico a partir de um cooler de computador. “Me inspirei em sites bacanas que existem lá fora, mas que não aceitavam postagens em português”, diz. Atualmente, o inventeaqui tem 7.500 usuários cadastrados. Com cerca de mil pessoas inscritas, o diybrasil.com.br é mais focado em tecnologia. Alguns de seus tutoriais exigem conhecimento de eletrônica — como a montagem do controle remoto para a vovó, que reúne as funções TV aberta, a cabo e DVD em um único aparelho. “Os projetos não precisam estar finalizados para serem postados”, diz o professor de computação André Barbosa, 36 anos, do Rio de Janeiro (RJ), idealizador do site. A ideia é que as pessoas façam críticas e sugestões. É o preceito do open source, o mesmo em que os usuários podem alterar softwares de maneira colaborativa pela internet.

LI E APRENDI
O holandês Arne Hendriks sempre acompanhou o instructables.com, um dos sites que lideram as comunidades de DIY no mundo. Criado no Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a plataforma tem instruções para fazer de cosméticos a robôs, passando por um tabuleiro para treinamento de controle de tráfego aéreo e brownie de caneca. Depois de colocar vários projetos no site, Hendriks teve a sensação de que nada era posto em prática. “Era triste ter aquele cemitério de boas intenções rapidamente consumidas, mas nunca materializadas”, diz. Foi daí que ele, que trabalhava com gastronomia, decidiu abrir um restaurante onde tudo, dos móveis às receitas, fosse tirado do site. O nome da casa, em Amsterdã: Instructables Restaurant.

Mas não só de projetos elaborados vive a comunidade virtual do Faça Você Mesmo. Cansadas de ficar na frente do computador, já que trabalham com internet, Andréa Onishi, 35 anos, e Cláudia Fajkarz, 35, de São Paulo (SP), decidiram fazer tricô e culinária. Criaram um blog sobre o tema, o superziper.com — e voltaram para a frente do monitor. Mas ainda sobra dedicação para os pontos de costura, que nada têm a ver com os tempos da vovó, garantem. “Antigamente as pessoas apenas reproduziam as lições, sem criar”, diz Andréa. “Quando se adquire o material e se faz algo com as próprias mãos, existe uma satisfação que não tem preço”, afirma, com conhecimento de causa. No fim das contas, é essa satisfação que move as pessoas a produzirem objetos sozinhas. Mais do que economizar ou ir contra a economia de mercado, o que mais querem é se divertir. “Se não, seria só trabalho”, diz o jornalista Daniel Sinker. E disso já estamos cheios.

DO REAL AO VIRTUAL
Editor-chefe da revista Wired e autor dos livros Grátis e Cauda Longa (ambos da Ed. Campus), Chris Anderson acredita que as revoluções que aconteceram na internet agora vão invadir o mundo real — ele mesmo criou uma empresa que fabrica peças de aviões para aeromodelismo. É sobre a volta dos bits aos átomos que ele vai falar no livro que está preparando.

Revista Galileu
*Como as inovações da internet estão se estendendo para o mundo real?
Chris Anderson: A internet oferece ferramentas para que qualquer pessoa crie alguma coisa dentro dela. É a democratização da tecnologia. Existe um paralelo agora no universo das manufaturas: a democratização das ferramentas de produção. A China abriu a venda de ferramentas para indivíduos e pequenas empresas. Assim, estão permitindo que mais pessoas e companhias entrem no ramo da manufatura. Na mesma linha da internet, esse processo tende a ser aberto e baseado em pequenas escalas.

*Os adeptos do DIY virtual vão migrar para o DIY físico?
Chris: O mundo físico é mais interessante de muitas maneiras. Primeiro, é maior do que o digital, é onde vivemos. Você pode mudar mais facilmente a vida das pessoas nele. Então, essa extensão é natural. Só não aconteceu antes porque era complicado. Era fácil criar um site, mas difícil fazer um objeto. Agora, acredito que mais e mais pessoas vão aderir. E grande parte da inovação que estava acontecendo exclusivamente na web vai se espalhar para o mundo real.

*É o início de uma nova revolução industrial?
Chris: Sim. A primeira revolução industrial foi a substituição da força dos músculos pela força da roda. A segunda foi a revolução da informação, a substituição dos átomos pelos bits. E acredito que a terceira, que é obviamente muito mais democrática, será a aplicação do modelo dos bits de volta aos átomos. Mas isso virá por meio dos indivíduos, não de grandes companhias. E vai mudar economias, gerar empregos e criar uma variedade de novos produtos que não seriam possíveis no velho modelo, em que cada produto precisa vender milhões para ser bem-sucedido. Estamos agora onde os computadores pessoais estavam no final da década de 70. Temos uma era começando que será, de muitas maneiras, maior do que a dos computadores pessoais, porque a economia do mundo físico é muito maior do que a do digital.

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