quinta-feira, 21 de julho de 2011

Depois do indie, o foodie

Nik NevesDesde que nosso cotidiano passou a ser dominado por uma certa cyber realidade, dois assuntos se tornaram o principal meio para expressar o gosto e personalidade de alguém: a música e a comida. Por isso é que, assim como a música indie, o movimento contemporâneo chamado foodie tem valores bem parecidos com os daquele pessoal que gosta de música alternativa e presta atenção em todo o processo de produção de um disco, desde o estilo de quem o faz até a maneira como ele chega ao mercado.

A palavra indie é um diminutivo usado em oposição aos valores e práticas das grandes corporações. Os indies preferem pequenas operações, independentes e locais, que sejam autossuficientes e cultivem valores como simplicidade, pureza, antipatia ao que é sintético. Além disso, nutrem um desejo de autenticidade, uma saudade do passado. Todas estas preocupações, agora, são compartilhadas por uma nova geração de obsessivos por alimentos que querem saber como a comida é feita, o quanto ela é local e autêntica. Produtos artesanais são a personificação dos valores centrais da música indie. O artesanal invoca o artesão que cria um produto do começo ao fim, exatamente como era antes da industrialização, em que se imagina que existiam produtos mais puros e menos modificados pela tecnologia.

Os rótulos dos alimentos artesanais recapitulam a ideologia indie em todos os momentos: de origem local, de propriedade independente, quantidades limitadas, métodos, tradição e ingredientes puros e simples. Mais importante: a comida deve ser orgânica, sem conservantes ou processos sintéticos. Há uma rejeição a produtos químicos que permitem às empresas enviar comida para muito longe com datas de validade infinitas. Empreendedores de alimentos artesanais devem ser pequenos, locais e produzir comida fresca com métodos que você poderia fazer em casa.
Nik Neves
Na comida indie, a cozinheira artesã usa matérias-primas originais que não são amplamente distribuídas, nem facilmente encontradas, semelhantes à prensagem de edições limitadas de vinil ou cassetes. Quanto mais raro o alimento, mais aumenta seu capital cultural. E quanto mais exótico e difícil de obter, mais desejável ele é. Tudo isso destaca o elitismo tanto dos ditos conhecedores de alimentos como os da música. Em seu discurso crítico, os indies sugerem que têm a perspicácia estética para saber qual é a melhor cozinha. O esforço de cada um para encontrar sempre algo desconhecido cria um senso de propriedade sobre o produto e, portanto, um sentimento de perda se a comida ou a música tornam-se conhecidos. Se uma cozinha ou banda se torna popular, muitos irão declarar que ela não é tão boa como costumava ser.

Uma parcela do público assiste aos shows através da lente de um celular: música ao vivo agora é mediada por um desejo de produzir a prova da experiência. Durante as refeições, os indies costumam fotografar as pessoas comendo. E colocar as imagens nas redes sociais antes da primeira mordida.

O fato de que filosofias semelhantes apareçam na música e comida não é nenhuma surpresa, uma vez que estes princípios são valores de toda a sociedade. Simplicidade, desconfiança de uma autoridade centralizadora e o desejo de retornar a um passado idealizado deve parecer familiar como são os princípios fundamentais do protestantismo — aqui articulados em formas acústicas e culinárias. Gostou? Então divulgue! TwitterFaceBookGoogle Buzz
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