Morte poderia ter sido evitada. "Eu te avisei, moça, que tinha alguém rodeando a minha casa", diz a mulher da vítima (foto). Ouça áudio
O major Nilton Rodrigues Ribeiro foi mantido na chefia do Centro de Operações e Defesa Social (Ciodes-190) pelo secretário de Segurança Pública, Henrique Herkenhoff.
A permanência do major no cargo foi questionada nesta sexta-feira (11) por causa do vazamento de áudios do Ciodes que revelam que a Polícia Militar poderia ter evitado um assassinato em janeiro de 2009.
Na ocasião, a esposa da vítima ligou para o 190 cerca de meia hora antes do crime e avisou sobre suspeitos que rondavam a casa, mas nenhuma viatura foi enviada ao local, no bairro Vila Nova de Colares, Serra.
O secretário Estadual de Segurança Pública, Henrique Herkenhoff, disse, no entanto, que não há motivo para afastar o diretor do Ciodes e que o major foi severo e correto ao saber o que havia acontecido. "As gravações fortaleceram ainda mais a minha confiança nele".
O cabo da reserva da Polícia Militar Djalma José de Oliveira, 54 anos, foi morto no dia 09 de janeiro de 2009 quando tentava impedir que criminosos ateassem fogo na casa do vizinho. Após não receber socorro quando pediu, a esposa do cabo ligou novamente para a atendente do Ciodes para informar que o marido havia sido assassinado. "Eu te avisei, moça, que tinha alguém rodeando a minha casa. Eu percebi, por favor, moça".
O major Nilton chegou a dar entrevistas afirmando que a mulher não havia acionado o Ciodes em tempo hábil, mas de acordo com as gravações, após falar com a imprensa ele foi informado pelo capitão Peçanha sobre a ligação feita meia hora antes do crime.
Na conversa com o capitão, o major se mostra preocupado e indignado com o cancelamento da ocorrência. O responsável seria o cabo Elionai Moraes dos Santos, que recebeu informações sobre o chamado no Ciodes, mas ignorou o pedido de socorro. "Como é que um sujeito cancela uma ocorrência dessa, bicho? Onde é que ele está com a cabeça?".
O capitão aponta um possível motivo: "A ocorrência chegou como averiguação de suspeito, aí o pessoal começa a fazer corpo mole". O major Nilton retruca: "Eu já falei, averiguação de suspeito é algo muito importante para nós para evitar que um crime aconteça. Eu falo isso na televisão, eu falo isso para todo mundo. Pelo amor de Deus, aí o cara arrebenta a gente".
O major, ainda nas gravações, diz que a situação é grave e que teme perder o cargo se o caso se tornasse público. Ainda no início de 2009 o cabo Elionai foi afastado do Ciodes pelo major Nilton, mas não sofreu nenhuma punição por parte da Corregedoria da Polícia Militar e continua na ativa.
Nesta sexta-feira (11) o secretário de Segurança Pública, Henrique Herkenhoff, reconheceu que a ocorrência não deveria ter sido cancelada pelo cabo. "Ele, possivelmente, não teve condições de atender mesmo àquela ocorrência, de encaminhar uma viatura. O que ele não poderia era ter cancelado, mas isso foi apurado. Ele pode ter feito isso por um erro. Ele era inexperiente na época, estava recebendo um treinamento, um acompanhamento. Falhas podem ocorrer".
Sobre o vazamento dos áudios do Ciodes o secretário afirmou que deve haver uma apuração para investigar como os diálogos, sigilosos, tornaram-se públicos.
Já o comandante da PM, coronel Anselmo Lima, disse ser prematuro avaliar a conduta do major Nilton. Mas frisou que a população pode confiar no Ciodes. "Com certeza a população pode e deve confiar no Ciodes. Com relação a essas questões, elas devem ser apuradas. E é o caminho que será percorrido. Mas nós ratificamos que a população pode acreditar no Ciodes, que é um local de trabalho, e que tem atendido aos anseios da sociedade".
Essa postura também é defendida pelo secretário Herkenhoff. Ele afirmou que o atendimento do Ciodes pode ser prejudicado pela falta de recursos e pessoal no momento da ocorrência, mas que isso não invalida o serviço.
As declarações do secretário e do comandante da PM foram feitas durante uma coletiva de imprensa convocada para o anúncio da integração da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao Ciodes. O convênio foi assinado pelo governador Renato Casagrande (PSB) nesta sexta-feira no Palácio Anchieta, em Vitória. O major Nilton não compareceu ao evento.
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