Vidas na escuridão são destruídas pelo crack. “Eu dei brecha e deixei o diabo entrar, invadir e destruir. E me levou para esse mundo”, conta um homem. “Comecei na maconha, depois bebida, depois a merla e depois esse ponto final”, relata outro homem. “A química já tomou conta do meu organismo. Eu não consigo ficar sem tomar”, diz uma mulher.
Em Ceilândia, usuários de crack vão até os bueiros para consumir a droga, mas também, como já perderam tudo e não têm mais onde morar, passam a maior parte do tempo nos subterrâneos da rede de esgoto. Esse é o local onde eles vivem.
Uma mulher de 40 anos perdeu o emprego e já esteve presa. Deixou os três filhos. “Só destruição, só destruição”, lamenta. São como vidas quase invisíveis para quem passa lá fora. “É o que eu mais sonho na minha vida é poder andar de cabeça erguida. Não como um bicho, como um resto”, sonha um viciado.
Ao longo da linha do metrô, o tráfico é feito à luz do dia. Um casal dá dinheiro a um traficante. Ele entrega as pedras de crack e esfrega a mão na roupa para tirar os resíduos. Usuários preparam os cachimbos para queimar as pedras e fumar a droga.
O pastor evangélico Luciano Gonzaga faz um trabalho de assistência com os viciados em crack de Ceilândia. “Esse lugar aqui, para mim, é o último estágio. A pessoa morar dentro de um esgoto significa que ela está morando no lixo”, observa o pastor.
O psiquiatra Rafael Boeachat trabalha com dependentes de droga há uma década. Nos últimos cinco anos, viu crescer o número de viciados em crack. Eles são cada vez mais jovens e de todas as classes sociais. “Acho que nós estamos perdendo uma geração bastante jovem entrando nessa droga, que é muito pesada. Com isso, o país perde muito. Perde mão de obra e toda uma geração”, afirma.
Em 2010, a polícia apreendeu 35 quilos de pedras de crack em Brasília, três vezes mais do que no ano anterior. “Nós temos de trabalhar de maneira bastante determinada para pegar os narcotraficantes. Trabalhos esses que têm de ser integrados e coordenados por uma inteligência única, que possa fornecer elementos para as autoridades policiais trabalharem de uma maneira mais eficaz no combate às drogas”, explica Daniel Lorenz de Azevedo, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Mas só a repressão não basta. É preciso tratar os dependentes, afirma o psiquiatra Rafael Boechat, que critica a omissão dos governos. “O custo do tratamento em si é barato. A gente precisa de pessoas, de profissionais treinados e de estrutura física simples. Isso é bem barato, se comparado a todo prejuízo que a droga causa. A gente sabe que tem o que fazer, sim, e não está se fazendo porque não é prioridade”, conclui Boechat.
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