sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Falso pastor é acusado de abuso

Paulo Sérgio Pereira, que dizia coordenar grupo de oração, ficava sozinho com as vítimas para dar a bênção e apalpava o corpo delas. 
Ele foi preso.

Aproveitando-se da inocência e da fé de pelo menos quatro mulheres, o falso pastor Paulo Sérgio Pereira, de 45 anos, foi preso ontem acusado de abusar sexualmente das fiéis enquanto fazia orações para elas.
 Segundo a delegada Michele Meire, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Cariacica, o acusado estava em casa no momento da prisão, no bairro Vale dos Reis, às 15 h 40.
 A delegada explicou que as investigações começaram no dia 13 de agosto, quando as quatro mulheres, que têm idades entre 19 e 42 anos, fizeram uma denúncia na Deam. 
Todas elas moram no município, contudo, os bairros onde vivem não foram revelados para não identificá-las. 
A delegada ressaltou que o acusado disse que frequenta uma igreja evangélica, mas que nunca presidiu cultos. 
“Ele disse que é um pastor revelado por Deus”, frisou. 
De acordo com as vítimas do falso pastor, elas o conheceram na casa da sogra de uma delas, uma dona de casa de 28 anos, há cerca de quatro meses, enquanto o acusado liderava uma “campanha” ou também chamado grupo de oração. 
Após o término da oração, o acusado pegou os telefones das vítimas e também deu o seu número para elas, dizendo que ele poderia ir até a casa delas para realizar uma bênção mais forte, que teria de ser longe de outras pessoas. 
“Ele fazia visitas semanais na minha casa e, à medida que ganhava a nossa confiança, passava a ir mais vezes ”, contou a dona de casa. 
As vítimas falaram que o acusado dizia a elas que Deus estava falando para ele que elas tinham doenças como câncer de mama e de útero. 
“Ele falava que estávamos com maldições e que precisávamos ser ungidas para nos livrar delas”, explicou uma jovem de 19 anos. 
Quando estava sozinho com as vítimas em seus quartos, o acusado começava a fazer as orações. Primeiro, ele encostava a mão na cabeça delas e depois passava a apalpar as partes íntimas. 
Com a jovem, ele ainda foi além. 
Paulo disse que ela estava com uma maldição no útero e que deveria colher nela um líquido para levar a um monte onde ele faria orações. 
Para recolher o suposto líquido, ele teria abusado da vítima. 
As vítimas conversaram umas com as outras sobre as atitudes do falso pastor e decidiram procurar a polícia.
DONA DE CASA VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL 
“Ele se aproveitou da nossa fé”
Abalada por ter sido vítima do falso pastor que abusava das fiéis durante orações, uma dona de casa, 28 anos, contou que o acusado passou a cometer os abusos depois que ganhou a sua confiança. 
A TRIBUNA – Como conheceu o acusado?
 DONA DE CASA – Eu conheci ele através da minha sogra. Ele fez uma campanha na casa dela. Depois, eu passei a ir em outras campanhas que ele fazia e depois ele pegou o meu telefone e me deu o telefone dele.
 Foi então que ele começou a falar que eu estava com doenças e que era melhor ele fazer as orações na minha casa, longe de muitas pessoas.
 A TRIBUNA – O que ele fazia depois? 
Ele me ligava ou mandava mensagens dizendo que tinha ido em um monte onde teve visões de Deus. Nessas visões, ele falava que Deus dizia a ele que eu estava doente e que precisava de ajuda.
 Ele falava que Deus queria mudar a minha vida.
 A TRIBUNA – Quantas vezes ele ia à sua casa? 
No começo, ele ia uma vez por semana. 
Mas depois ele passou a ir duas vezes, três vezes. 
Foi aí que eu comecei a desconfiar. 
A TRIBUNA – E o que ele fazia durante as orações? 
Primeiro ele colocava a mão por cima das roupas, dizendo que iria fazer uma oração para curar doenças e maldições. 
Só que depois, quando foi pegando confiança, e começou a colocar a mão por debaixo das roupas. 
A TRIBUNA – O seu marido sabia do que estava acontecendo? 
Não. 
Eu estava me sentindo muito estranha. 
Não sabia se era normal. 
Até que eu fui me sentindo muito mal comigo mesmo. 
Ficava chorando o tempo todo. 
Até que eu conversei com o pastor da minha igreja e ele disse que aquilo não era um oração e que esse cara estava se aproveitando de mim. 
A TRIBUNA – Não desconfiou de que ele não era pastor? 
No começo, não. 
Ele andava sempre com uma calça jeans, camisa polo e uma pasta preta. Ele sabia tudo sobre a Bíblia. É complicado, pois ele se aproveitou da nossa fé.
JOVEM DE 19 ANOS VÍTIMA DO FALSO PASTOR
 “Agora vejo o quanto fui inocente”
Uma jovem de 19 anos contou que também foi vítima do falso pastor. Ela lamentou que o acusado tenha usado o nome de Deus para enganá-la. 
A TRIBUNA – Como conheceu o falso pastor? 
JOVEM – Durante uma campanha que ele estava fazendo na casa de uma amiga da minha mãe.
 A TRIBUNA –  O que ele fez com você? 
Ele passou a ir à minha casa, pois dizia que precisava orar por mim longe das outras pessoas.
 Só que ele começou a ungir o meu corpo por baixo da roupa. 
Estava achando muito estranho.
A TRIBUNA – Por que não contou o que ele fazia para alguém? 
Teve uma vez que eu achei que ele estava passando dos limites e pedi para ele parar.
 Mas ele falava que Deus que estava falando para ele fazer aquilo. 
Eu fui criada de forma muito rígida dentro da religião e sempre temi muito a Deus. 
Agora vejo o quanto fui inocente.
A TRIBUNA –  Como se sente agora? 
Estou arrasada. 
Passar por isso até abalou a minha fé.

Polícia acredita que após prisão outras vítimas vão denunciar
Para a delegada Michele Meira, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Cariacica, o falso pastor que abusava de fiéis durante orações pode ter feito mais vítimas. 
“Acreditamos que algumas mulheres podem estar com medo de denunciar o acusado. 
Mas com a divulgação da prisão dele, outras vítimas podem surgir”, explicou.
 Paulo Sérgio Pereira, 45 anos, negou todas as acusações.
 “Eram elas que ligavam para eu ir até elas fazer orações ”, alegou. Porém, para a polícia não há dúvidas de que ele estava cometendo um crime. 
“Ele estava se aproveitando da fé dessas mulheres para cometer os abusos”, ressaltou a delegada.
 A titular da Deam explicou que o mandado de prisão temporária do acusado tem validade de 30 dias, que é o tempo necessário para que o inquérito seja concluído. 
Segundo a delegada, Paulo Sérgio poderá ser indiciado por violação sexual mediante fraude, cuja pena é de seis anos. Porém, por conta do número de vítimas, a pena dele pode ser maior. 
Ele foi encaminhado para o presídio.

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