
Empolgados com "Cinquenta Tons de Cinza", casais se assustam em festas de fetiche
Um homem toma o centro da pista de uma balada no centro da cidade. Pendurado que nem carne de açougue, toma chicotadas de uma mulher loira de corpete, ao ritmo da música do DJ David Guetta que toca às 2h15. Ao ver gotas de sangue minando das costas do açoitado, a arquiteta Ana, 32, deixa a festa, só para convidados. Comenta, com a mão na boca: "Não era assim no livro".
O sadomasoquismo de "Cinquenta Tons de Cinza" (ed. Intrínseca, 517 págs., R$ 40), da londrina E. L. James, há 32 semanas no topo da lista de livros mais vendidos no país, não saiu do papel. Ao menos não em São Paulo, dizem os promoters que organizam os encontros de fetiche da cidade.
A festa Ata-me!, onde há três sextas-feiras aconteceu a cena que abre o texto, foi criada no auge da excitação com o fenômeno literário, há seis meses, e capitaliza com ele. Mas os curiosos são, no grosso, visita única no evento, diz seu organizador Lorde Ugg, 37.
"As pessoas vêm, ficam assustadas com a cena e saem para nunca mais voltar", diz Ugg. Restam de público as dezenas de amigos que se encontram há anos em diferentes casas para, além de dançar, pisotear, chicotear e xingar.
"[O sucesso do livro] não me adiantou em nada. Não recebi nenhum casal novo por causa disso", diz Heitor Werneck, decano da safadeza na cidade. Werneck, 45, organiza festas em que pessoas vestidas de couro ou látex pagam entradas menores há duas décadas. Em agosto, abriu o Mini Club, na Consolação, para dar sede à festa Luxúria. Há duas semanas, ocorreu a edição "cross-dressing", em que homem se veste de mulher e vice-versa.
"Tive medo de que as pessoas chegassem à festa esperando uma atitude que não é retratada no livro." Ele relata, porém, que os curiosos nem apareceram. "Aumentou a audiência no [mundo] virtual, mas as pessoas não têm coragem de vir."
Rainha Suzane, uma dominadora profissional que organiza festas particulares em que duas ou três "soberanas" como ela dão ordens (e palmadas) em um séquito de homens pagantes, concorda em número e sexo. "Para mim, o livro não teve influência nenhuma. É só moda. Depois que a Madonna fez uns clipes usando couro e látex, virou tendência.
E vai e vem e vem e vai", diz.
Mas há quem consiga prender a atenção dos curiosos sem os afugentar de vez. É o caso de Mistress Bela, que organiza a festa itinerante Dominna e teve um clube dedicado ao estilo no Tatuapé, zona leste, até o ano passado. "As festas não mudaram", diz ela, que as define como "light". "De forma alguma podemos mostrar as práticas sem os cuidados que elas merecem."
Para evitar choques, ela diz que eventos abertos devem ser "uma introdução". Antes de ir a reuniões mais pesadas ("cenas", no jargão), os neófitos têm de passar por "workshops e toda forma de transmissão de conhecimento" para aprender a tríade: "O BDSM é são, seguro e consensual".
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