domingo, 27 de fevereiro de 2011

Enterro de bebê que caiu em rio é marcado por comoção e revolta

Famílias do pai e da mãe trocaram acusações sobre o cuidado da criança.
Avô paterno vai pedir à polícia para mudar indiciamento do motorista.


Elisiane (no centro), mãe da menina Cristal, se desespera dirante o enterro da filha (Foto: Tássia Thum/G1)
Elisiane (no centro), mãe da menina Cristal, se
desespera dirante o enterro da filha

O enterro da menina Crystal, de 1 ano e 2 meses, foi marcado por comoção e revolta. As famílias da mãe e do pai da criança trocaram acusações durante a cerimônia, que aconteceu na tarde deste sábado (26), no cemitério de Inhaúma, no subúrbio do Rio.

A criança morreu na sexta (25), após sofrer um acidente de carro. O veículo caiu num rio, e ela ficou submersa por cerca de 20 minutos.

Crystal foi encontrada pelos bombeiros, que conseguiram reanimá-la. No entanto, um dia depois do acidente ela não resistiu e morreu no Hospital Miguel Couto, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Segundo peritos do IML, o laudo com a causa da morte da menina sairá em 10 dias.

Pais passam mal em enterro
No enterro, o pai do bebê, o enfermeiro Alessandro Sabino, não falou com a imprensa. Ele passou mal e foi amparado por amigos e parentes. A mãe, Elisivane Costa, também não conseguiu conter as lágrimas e saiu do cemitério em uma Kombi da igreja que frequenta em Jacarepaguá, na Zona Oeste.

“Eu não aceito, eu quero ir com ela”, disse a mãe aos prantos ao ver o caixão da pequena Crystal. Ainda no velório, a irmã de Elisivane desmaiou e não conseguiu assistir ao enterro da sobrinha.

Segundo parentes, Crystal foi fruto de um relacionamento de três meses entre Elisivane e Alessandro. De acordo com os relatos, ele só reconheceu a menina através de um exame de DNA que comprovou a paternidade. Desde então, eles travavam uma batalha na Justiça pelo pagamento de pensão e a regularização de visitas.

Troca de acusações
A avó paterna da menina, Liziet Sabino, culpa a ex-nora pela perda da neta. Elisivane estava no carro que afundou no rio junto da filha e de outras duas pessoas. O motorista do veículo confirmou à polícia que tinha ingerido bebida alcoólica e que sua carteira de habilitação estava vencida há 8 anos. Ele foi indiciado por lesão corporal de trânsito com agravamento.

“Espero que haja a justiça de Deus para os homens. A Elisiviane está se passando de vítima e quer mudar o foco da investigação. Por que ela não ficou lá no rio procurando a filha? A vítima é quem está lá em cima”, indagou a avó.

Indiciamento do motorista
Com a morte da neta, o avô paterno, o aposentado Neocir Pavão Faria, disse que vai pedir à polícia para mudar o indiciamento do motorista para homicídio doloso, quando há intenção de matar, já que ele assumiu ter bebido cerveja antes de dirigir.

O pai de Crystal também passou mal no enterro e deixou a cerimônia em um carro da funerária (Foto: Tássia Thum/G1)

O pai de Crystal também passou mal no enterro e deixou a cerimônia em um carro da funerária

“A partir do momento em que se dirige bêbado, se assume o risco de matar. Por isso acho que a lei e as autoridades devem ser rigorosos na punição. Perdi minha neta, uma menina linda e muito alegre”, lamentou Neocir.

A mãe da menina não falou com a imprensa durante o velório. Sua mãe, a doméstica Meire Costa, rebateu as acusações da família de Alessandro, e declarou que Crystal teve todo o cuidado e a atenção de sua filha.

“Se Deus chamou é porque tinha que ir, cada um tem sua hora. Eu fui a verdadeira avó dela”, concluiu a avó materna.

Carro em alta velocidade
Testemunhas do acidente contaram aos policiais que o motorista dirigia em alta velocidade. Na delegacia, o condutor contou que, ao fazer uma ultrapassagem, foi surpreendido por outro carro. Para evitar um acidente, ele teria desviado e acabou perdendo a direção, e caído no rio. O acidente aconteceu na Estrada do Rio Morto, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste.

O cabo do Corpo de Bombeiros Luiz Carlos Peixoto Castellar, de 33 anos, que fez o resgate da menina, disse que foi emocionante: “Foi o resgate mais importante que já fiz”, disse. A água escura tornou o trabalho dos bombeiros ainda mais dificil.

Em 13 anos de corporação e com a experiência de 12 anos como mergulhador, o cabo Castellar contou que é raro uma vítima sobreviver nas condições em que a menina foi resgatada.

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