
Você acha que na Inglaterra a moça enterraria o cigarro na areia? “Não, em Londres não tem praia”, debocha a turista inglesa. A amiga tenta consertar e diz que pode recolher, mas achar a guimba não é fácil. Agora imagine o trabalho dos garis no fim de um dia de praia lotada?
Quer saber o quanto esta sujeira toda pesa? O Fantástico fez o teste em quatro regiões do Brasil, medindo o volume de lixo recolhido ao longo de um quilômetro de praia, em um domingo de sol. Os trechos escolhidos são os mais badalados do litoral.
Começamos lá em cima no mapa, Fortaleza, no Ceará. A imagem não combina nada com a beleza da Praia do Futuro. No local, os garis recolheram 800 quilos de lixo. O mais comum é a casca de coco.

Nossa equipe encontrou uma "salada de frutas" na Praia da Redinha, em Natal, Rio Grande do Norte. No local, o pessoal fica tão acomodado que nem ouve o aviso. O alto-falante avisa: "banhista, por favor, não jogue lixo na praia". Somando pernas de caranguejo e o que ficou pela areia, foram 1,55 mil quilos de lixo.
Na capital pernambucana, os recifes, que deram nome à cidade, são agredidos pelos copos plásticos. Em um quilômetro da Praia de Boa Viagem, foram recolhidas 2,5 toneladas de resíduos.
E agora um salve para Salvador. No teste feito pelo Fantástico no ano passado, Piatã tinha ficado com o título de praia mais suja do Brasil. Foram 7,5 toneladas de lixo. Desta vez, os baianos tiveram um desempenho muito melhor: 2 toneladas e 390 quilos.

Na capital pernambucana, os recifes, que deram nome à cidade, são agredidos pelos copos plásticos. Em um quilômetro da Praia de Boa Viagem, foram recolhidas 2,5 toneladas de resíduos.
E agora um salve para Salvador. No teste feito pelo Fantástico no ano passado, Piatã tinha ficado com o título de praia mais suja do Brasil. Foram 7,5 toneladas de lixo. Desta vez, os baianos tiveram um desempenho muito melhor: 2 toneladas e 390 quilos.

E o domingão na Baixada Santista? O rap está animado, mas é preciso guardar fôlego para juntar 2.150 quilos de lixo que os banhistas deixaram para trás.
“É horrível entrar no mar e não conseguir andar de tanta sujeira”, comenta a estudante Aline Pires. “Nasci e me criei aqui. A gente lamenta muito a sujeira e a falta de consciência”, critica o aposentado Adilson Masagão.
Nós também lamentamos. No Sul, encontramos praias mais limpas. Canasvieiras, no norte da ilha de Florianópolis, está cheia de turistas nessa época, e encontramos mais gente com o péssimo hábito de enterrar o lixo.

De lixinho em lixinho, foram 800 quilos de resíduos. E olha que a cada 30 metros tem uma lixeira. Mas o volume que pesamos foi só do lixo que estava na areia.
Capão da Canoa é a praia preferida dos gaúchos. Estreante no teste, foi a que se saiu melhor. Foram recolhidos 700 quilos de lixo em um quilômetro.
E qual é a praia que melhor representa o Brasil? A primeira que vem à cabeça é Copacabana. Nós pulamos o Rio de Janeiro no mapa de propósito, porque a sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 ganhou medalha de ouro em lixo na praia. Foram 2,8 mil quilos. Mais que triplicou em relação ao ano passado, quando foram coletados 870 quilos de lixo.
As lixeiras existem. O problema é que o povo não parece disposto a andar até elas, mas quem gosta de limpeza, dá um jeito. “Trouxemos uma bolsinha, e estamos colocando na bolsinha”, revela a professora Alina dos Santos.
“O cidadão precisa entender que cuidar do espaço público para que todos possam frequentar esse espaço com qualidade, uma coisa limpa, e principalmente porque nós estamos vendendo turismo”, comenta o diretor da Comlurb, Luis Guilherme Gomes.

Capão da Canoa é a praia preferida dos gaúchos. Estreante no teste, foi a que se saiu melhor. Foram recolhidos 700 quilos de lixo em um quilômetro.
E qual é a praia que melhor representa o Brasil? A primeira que vem à cabeça é Copacabana. Nós pulamos o Rio de Janeiro no mapa de propósito, porque a sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 ganhou medalha de ouro em lixo na praia. Foram 2,8 mil quilos. Mais que triplicou em relação ao ano passado, quando foram coletados 870 quilos de lixo.
As lixeiras existem. O problema é que o povo não parece disposto a andar até elas, mas quem gosta de limpeza, dá um jeito. “Trouxemos uma bolsinha, e estamos colocando na bolsinha”, revela a professora Alina dos Santos.
“O cidadão precisa entender que cuidar do espaço público para que todos possam frequentar esse espaço com qualidade, uma coisa limpa, e principalmente porque nós estamos vendendo turismo”, comenta o diretor da Comlurb, Luis Guilherme Gomes.

A verdade é que nas praias apenas reproduzimos o comportamento que temos nas ruas. No Brasil o espaço público ainda é tratado não como sendo de todos, mas como terra de ninguém. No Rio de Janeiro, todos os dias, são recolhidos 3,2 mil toneladas de sujeira.
Não é à toa que a Avenida Rio Branco, no centro da cidade, precisa ser varrida cinco vezes por dia. Para que pegar o panfleto, se vai jogar no chão? Haja gari para recolher meia tonelada de resíduos por dia. “Quanto mais gari a gente bota na rua, mais lixo aparece”, diz a presidente Comlurb, Angela Fonti.
A região Sudeste é a que mais gera lixo. São 89 mil toneladas por dia - uma média de 1,2 quilo por habitante. Na cidade de São Paulo, a maior do Brasil, há ruas e calçadas transformadas em lixões. No centro da cidade, sem a menor cerimônia, eles vêm e jogam de tudo. Depois, vem a prefeitura e limpa. Ao todo, são 13 toneladas de restos de móveis, tábuas, pneus.
A prefeitura lava o chão, e tudo fica limpinho, por alguns minutos. Às 16h, já está formado de novo o lixão. E isso acontece em 1,3 mil pontos da cidade já mapeados pela prefeitura de São Paulo.

Só que saber o tamanho do problema não é a mesma coisa do que ter uma solução. “É importantíssimo que o cidadão que more ou use a cidade tenha espírito de cidadania no sentido de tratar o bueiro onde eventualmente um saco de lixo entupa, como o jardim da sua casa, como uma sala de visitas”, afirma o secretário municipal da coordenação das subprefeituras de SP, Ronaldo Camargo.
Uma sala de visitas para a qual ninguém quer ser convidado. Com tanto lixo espalhado, chega a chuva. É a receita de desastre.
Uma boca de lobo mostra bem o que acontece quando tem lixo na rua e chove. A água arrasta o lixo para dentro do esgoto, que funciona como se fosse um tampão. Se a água não tem para onde escorrer, a cidade enche. Só nesta operação, foram 300 quilos de lixo recolhidos. Um super jato de água foi usado para desentopir os bueiros.
“Provoca a própria morte, para ele mesmo e para a família, jogando as coisas na rua, sem responsabilidade nenhuma. Sem pensar no amanhã”, ressalta o gari Rogério Ferreira

Uma sala de visitas para a qual ninguém quer ser convidado. Com tanto lixo espalhado, chega a chuva. É a receita de desastre.
Uma boca de lobo mostra bem o que acontece quando tem lixo na rua e chove. A água arrasta o lixo para dentro do esgoto, que funciona como se fosse um tampão. Se a água não tem para onde escorrer, a cidade enche. Só nesta operação, foram 300 quilos de lixo recolhidos. Um super jato de água foi usado para desentopir os bueiros.
“Provoca a própria morte, para ele mesmo e para a família, jogando as coisas na rua, sem responsabilidade nenhuma. Sem pensar no amanhã”, ressalta o gari Rogério Ferreira

Mas amanhã o lixo está nos córregos. O trabalho de limpeza do córrego Itaquera começou há três meses e, nesse período, as máquinas só conseguiram avançar 700 metros. Mas, em um trecho, já tiraram mais de 8 mil toneladas de lixo. Dá mais de oito milhões de quilos.
“Quando a gente vê, a gente fala para não jogar, porque, quando alaga, são as nossas casas que enchem, não é a deles. Mas a gente não pode fazer mais nada do que isso. Eles viram a cara e não estão nem aí. Jogam mesmo”, revela a dona de casa Verusa Ferreira.
Que diferença de Caxias do Sul, no Rio Grande, onde encontramos um córrego sem lixo. Coisa de cidade pequena? Não é. Caxias do Sul tem quase 500 mil habitantes e foi a primeira do Brasil a implantar a coleta mecanizada.
Funciona assim: em vez de deixar o lixo na calçada, na frente de casa, os moradores caminham um pouco e deixam o lixo separado em dois contêineres. O verde é para lixo orgânico. O amarelo, para o reciclável. Depois, vem o caminhão e recolhe, sem que alguém precise tocar o lixo. Uma vez por semana, a coleta é acompanhada do caminhão de limpeza que junta o container, lava, e devolver bem limpinho para a rua. Assim, nunca tem cheiro.
Sônia Bridi: não dá muito trabalho?
Eledina Spadetto: Não, é melhor do que antes que ficava ali frente. Ficava ali um ou dois dias. Assim, a gente leva e põe lá. Pode chove e cachorro não rasga.Não faz sujeira nenhuma.
“Nós acabamos de ver as cenas do lixo correndo para a boca de lobo provocadas pelas enxurradas. Essa cena na área dos contêineres felizmente acabou”, diz o diretor da empresa de coleta, Adiló Didomênico.
“Adoro morar aqui, acho minha cidade muito limpa e muito linda”, comenta uma mulher.
O lixo reciclável vai para cooperativasde catadores.

“Quando a gente vê, a gente fala para não jogar, porque, quando alaga, são as nossas casas que enchem, não é a deles. Mas a gente não pode fazer mais nada do que isso. Eles viram a cara e não estão nem aí. Jogam mesmo”, revela a dona de casa Verusa Ferreira.
Que diferença de Caxias do Sul, no Rio Grande, onde encontramos um córrego sem lixo. Coisa de cidade pequena? Não é. Caxias do Sul tem quase 500 mil habitantes e foi a primeira do Brasil a implantar a coleta mecanizada.
Funciona assim: em vez de deixar o lixo na calçada, na frente de casa, os moradores caminham um pouco e deixam o lixo separado em dois contêineres. O verde é para lixo orgânico. O amarelo, para o reciclável. Depois, vem o caminhão e recolhe, sem que alguém precise tocar o lixo. Uma vez por semana, a coleta é acompanhada do caminhão de limpeza que junta o container, lava, e devolver bem limpinho para a rua. Assim, nunca tem cheiro.
Sônia Bridi: não dá muito trabalho?
Eledina Spadetto: Não, é melhor do que antes que ficava ali frente. Ficava ali um ou dois dias. Assim, a gente leva e põe lá. Pode chove e cachorro não rasga.Não faz sujeira nenhuma.
“Nós acabamos de ver as cenas do lixo correndo para a boca de lobo provocadas pelas enxurradas. Essa cena na área dos contêineres felizmente acabou”, diz o diretor da empresa de coleta, Adiló Didomênico.
“Adoro morar aqui, acho minha cidade muito limpa e muito linda”, comenta uma mulher.
O lixo reciclável vai para cooperativasde catadores.

Outra Caxias, outro mundo. Duque de Caxias, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
O trabalho duro de homens e mulheres que tiram a vida do lixo inspirou o artista Vik Muniz. Ele documentou o processo em que os catadores trabalham com ele em uma série de retratos. O filme "Lixo Extraordinário" concorre ao Oscar de Melhor Documentário.
Jardim Gramacho ganhou notoriedade, porque é o maior, não porque é raro. No Brasil inteiro, são 1.688 lixões, que recebem 22 milhões de toneladas de lixo por ano. O lixo é depositado em condições inadequadas, agredindo a natureza e a saúde da população.
Em todo o Brasil, 72% das cidades jogam o lixo em lugares inadequados. No Piauí, a situação é mais grave. A capital Teresina não tem um único aterro sanitário, só lixão.
O trabalho duro de homens e mulheres que tiram a vida do lixo inspirou o artista Vik Muniz. Ele documentou o processo em que os catadores trabalham com ele em uma série de retratos. O filme "Lixo Extraordinário" concorre ao Oscar de Melhor Documentário.
Jardim Gramacho ganhou notoriedade, porque é o maior, não porque é raro. No Brasil inteiro, são 1.688 lixões, que recebem 22 milhões de toneladas de lixo por ano. O lixo é depositado em condições inadequadas, agredindo a natureza e a saúde da população.
Em todo o Brasil, 72% das cidades jogam o lixo em lugares inadequados. No Piauí, a situação é mais grave. A capital Teresina não tem um único aterro sanitário, só lixão.

Para ser chamado de aterro sanitário, precisa ser como o de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Ele só recebe o lixo que não pode ser reciclado. O chorume, aquele líquido que sai de matéria orgânica em decomposição, é tratado e volta a ser água limpa. E o gás metano, que tanto agride o planeta, é coletado e vira energia. Transformar lixões em aterros sanitários no Brasil seria um passo importante. Mas solução mesmo só com coleta geral, educação e fiscalização.
“Então, acho que a sensação de impunidade que existe em outras áreas, no trânsito, até no crime comum, acaba indo para essa área da limpeza. Isso gera uma cadeia perversa de impunidade”, conclui o professor de Ciência Ambiental da UFF, Emílio Eigenheer.
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“Então, acho que a sensação de impunidade que existe em outras áreas, no trânsito, até no crime comum, acaba indo para essa área da limpeza. Isso gera uma cadeia perversa de impunidade”, conclui o professor de Ciência Ambiental da UFF, Emílio Eigenheer.
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